Estado de Minas ESPECIAL

Mineiros do Ano 2022 - Anna Cunha

A ilustradora mineira havia ganhado o Concurso João de Barro com o livro Origem, mas não levou por um detalhe burocrático. Anos depois, conquistou o Jabuti


''

Anna Cunha, em sua biblioteca:
Anna Cunha, em sua biblioteca: "Sou feliz fazendo ilustração de obras de outras pessoas, mas eu ainda ficava um pouco desejosa de poder, de vez em quando, publicar alguma coisa autoral, e o prêmio é um fôlego para a insistência" (foto: Pádua de Carvalho/Encontro)
Quem conversa com a belo-horizontina Anna Cunha reconhece, nela, a sensibilidade que está presente em suas ilustrações, reconhecidas mundo afora. Miúda, cabelos curtos, voz suave e jeito calmo, ela fala da mesma maneira como ilustra: com delicadeza e leveza, sem perder a força. Anna conta de forma tranquila, por exemplo, um episódio mais do que frustrante: quando inscreveu o livro autoral Origem no Concurso Nacional João de Barro, da prefeitura de Belo Horizonte, mas, por um detalhe no edital que passou despercebido por muitos candidatos, não enviou um dos documentos exigidos e, assim, não levou o prêmio. "O vencedor da categoria texto também não levou pelo mesmo motivo", conta. A tranquilidade não significa que não tenha ficado chateada. Significa apenas olhar com generosidade para o mundo e para os acontecimentos. Ela tentou entrar com recurso, mas não adiantou. Então, veio a pandemia, e o livro acabou ficando três anos na gaveta. "Eu já estava sem esperança de ele sair", afirma.

Perfil:

  • Anna da Cunha Teixeira, 37 anos
  • Belo Horizonte
  • Graduada em Artes Plásticas pela Escola Guignard, da UEMG, e pós-graduada em ilustração pela Univerdade Politécnica da Catalunha. Ilustradora, já ilustrou mais de 30 livros de outros autores. Escreveu e ilustrou Origem, publicado pela Maralto Edições. Ganhadora do Jabuti e de três FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil) e AEILIJ (Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil). Foi indicada para o Kate Greeenaway Medal da Associação de Bibliotecas do Reino Unido e selecionada para o catálogo The White Ravens da Biblioteca International de Literatura Infantojuvenil em Munique, Alemanha.

A origem de Origem foi uma viagem de dois meses da mineira pela África. Em outro infortúnio na vida, seu celular estragou e ela perdeu as muitas fotos que havia tirado nessa incursão que tanto a marcou. "Comecei a desenhar as minhas imagens preferidas para não esquecer", conta. E a partir daí, unindo cenas que lhe tocaram com frases e pensamentos que lhe vinham à mente, foi construindo a obra. O livro, com narrativa poética e imagens delicadas e potentes, fala da brincadeira, da infância, do começo e da vida humana. Em dezembro de 2021, foi publicado pela paranaense Maralto Edições.

A obra levou, em setembro de 2022, dois prêmios FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil), o que, segundo Anna, foi uma grande alegria. Isso porque livros ilustrados podem ser difíceis de classificar em faixa etária, então enquadrá-los em categorias (o que costuma ser necessário para venda, para concursos) pode ser difícil. Por isso, a artista estava um pouco desacreditada de seu veio autoral. "Eu achava que o que eu fazia não estava encontrando um lugar no mundo." E essa não era sua primeira dúvida sobre como se encontrar. No vestibular, por exemplo, optou por ciências biológicas. Só depois de perceber que essa não seria sua profissão, passou a cursar artes plásticas paralelamente. Mesmo assim, conta que demorou a entender qual seria seu espaço. Foi traçando seu caminho na ilustração, no design, fazendo trabalhos para empresas, marcas, revistas, até chegar no mundo dos livros, ilustrando para outros autores.

Parece que Anna se encontrou. Em novembro, Origem levou a estatueta, na categoria ilustração, do mais tradicional prêmio literário brasileiro, o Jabuti. "Para mim foi muito importante esse reconhecimento, após a trajetória acidentada desse trabalho", afirma. "Mas, sobretudo, seu grande valor é de incentivo", explica. "Sou feliz fazendo ilustração de obras de outras pessoas, mas eu ainda ficava um pouco desejosa de poder, de vez em quando, publicar alguma coisa autoral, e o prêmio é um fôlego para a insistência."

Os comentários não representam a opinião da revista e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação