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Estado de Minas CIDADE

Puxadinho entre os edifícios Sulacap e Sulamérica será demolido

Notícia foi bem recebida, mas comerciantes estão temerosos sobre o impacto da obra


postado em 17/04/2023 09:15

O anexo dos edifícios Sulacap e Sulamérica, que está com os dias contados: ainda não há previsão para demolição(foto: Paulo Márcio/Encontro)
O anexo dos edifícios Sulacap e Sulamérica, que está com os dias contados: ainda não há previsão para demolição (foto: Paulo Márcio/Encontro)
Há 50 anos, moradores de Belo Horizonte foram tolhidos de avistarem da avenida Afonso Pena, altura do número 981, o portal que liga a cidade à sua porção leste. O viaduto de Santa Tereza, tão presente em livros e poesias que celebram a história da capital mineira, foi tampado por um concreto, ou melhor, um puxadinho entre duas emblemáticas torres erguidas na década de 1940. Além disso, quem frequenta o hipercentro ficou sem um espaço de convívio que havia ali, entre os prédios, a chamada Praça da Independência. As torres foram tombadas pelo patrimônio municipal em 2015.

O conjunto de edifícios Sulacap e Sulamérica, projetado por Roberto Capello, sofreu, em 1970, portanto, uma intervenção no mínimo questionável e com o aval de boa parte dos vereadores da época. Agora, depois de uma longa batalha, saiu o decreto da Prefeitura de BH que vai jogar no chão o tal anexo. "Se deixarem, quero dar a primeira marretada", diz o vereador e presidente da Câmara Municipal de BH, Gabriel Azevedo. A declaração forte do parlamentar tem explicação e se dá também em tom de alívio. Ele capitaneou em 2019 a divulgação da Campanha Janela Aberta, feita por um coletivo de representantes de vários setores da cidade, com o objetivo de chamar atenção para o caso. "Esse decreto tinha que ter saído há mais tempo. As pessoas poderão ver a beleza do centro novamente", diz. Estudioso da história de BH, Gabriel lembra que os prédios Sulacap e Sulamérica, com 15 andares cada, já foram, ao lado do Acaiaca, os ícones da cidade.

Outro que estava ansioso por uma definição é o arquiteto Gustavo Penna, que também integrou o coletivo da Campanha Janela Aberta. "Não sou apenas a favor da demolição. Sou um verdadeiro ativista da ideia", afirma. De acordo com o arquiteto, os edifícios Sulacap-Sulamérica têm o potencial de ser um Rockefeller Center, badalado complexo de edifícios de Nova York, nos EUA, que concentra lojas e restaurantes, entre outras atrações. "A cidade atinge a maturidade quando consegue desedificar coisas que foram feitas erradas", afirma. Sobre os possíveis projetos para o espaço que será aberto após a demolição, Gustavo é enfático: "tem que deixar vazio e encher de gente".

Comerciantes que têm negócios próximos ou mesmo no conjunto de prédios veem com bons olhos a notícia, mas estão temerosos quanto ao processo da obra. "Foi uma conquista cultural para a cidade e vai ser positivo para quem frequenta a região, contudo, existe a preocupação sobre o impacto durante a intervenção", diz Andressa Pestilli, gerente do Sula Comida e Cultura, point gastronômico e cultural que funciona desde 2021 no vão entre os prédios. No último dia 29/03, o prefeito Fuad Noman (PSD) esteve no local a fim de estreitar a relação com os comerciantes dali. "Repassamos nossas preocupações para a comissão que visitou o complexo. Eles se comprometeram a manter uma conversa sobre o processo de desapropriação, projeto de demolição e revitalização, além da interdição do espaço com lojistas e comerciantes que podem ser impactados", afirmou Andressa.

Ainda não há previsão para que o anexo seja demolido, já que está em andamento o processo de desapropriação de pelo menos oito salas, abrigadas pelos dois andares do lugar, conforme indica o decreto. A reportagem de Encontro procurou a Prefeitura de BH, mas não foi disponibilizada fonte para tratar do assunto. O decreto que prevê a demolição faz parte de um projeto maior da administração municipal que pretende requalificar o centro da capital mineira. E quando se fala em requalificação, nesse caso, o objetivo é um só: trazer mais pessoas para a região e afastar a ideia de que a área serve apenas de passagem.

Algumas iniciativas recentes estão nessa direção. É o caso da ocupação do prédio do antigo Banco do Estado de Minas Gerais (Bemge), na praça Sete, pela P7 Criativo, em 2022, um hub da economia criativa. Outro exemplo é o Mina Jazz Bar, dos sócios Gabriel Azevedo e o chef Léo Paixão, aberto em 2021 no Automóvel Clube, além do próprio Sula, que deu nova ocupação ao vão livre entre as torres gêmeas do centro. Agora, a expectativa com a demolição do anexo da dupla Sulacap-Sulamérica é que se abra não apenas um novo espaço e uma nova vista para a cidade, e sim outra oportunidade de levar mais pessoas para o Centrão de BH.

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