Publicidade

Estado de Minas PERFIL

Conheça o vice-presidente do Galo, Márcio André de Brito

Ele começou vendendo salgados e picolés na infância e se tornou empresário bem-sucedido, sem perder o jeito mineiro de ser simples


postado em 11/03/2024 01:18 / atualizado em 11/03/2024 01:19

Dos tempos de torcedor, Márcio André guarda com carinho um pôster do time do Galo campeão brasileiro em 1971, que fez questão de emoldurar:
Dos tempos de torcedor, Márcio André guarda com carinho um pôster do time do Galo campeão brasileiro em 1971, que fez questão de emoldurar: "Era mágico ver esses caras jogarem" (foto: Pádua de Carvalho/Encontro)
Ganhar na loteria mineira para conseguir comprar um carro. Esse era o único sonho que o jovem Márcio André de Brito trazia na mala, há mais de 40 anos, quando se mudou do humilde povoado do Tejuco, em Brumadinho (MG), em busca de uma vida melhor na capital Belo Horizonte. Podemos dizer que a vida foi muito mais generosa com o garoto sonhador e determinado que desembarcou em BH aos 20 anos de idade e precisou morar "de favor" para ter um teto. Hoje, aos 66 anos, Marcinho, ou Ratinho (apelido que ganhou jogando bola, por ser pequeno e ligeiro), como é carinhosamente chamado pelos amigos, foi recém-empossado vice-presidente do Clube Atlético Mineiro e é dono da TCM Terraplanagem, Construções e Máquinas, empresa com 34 anos de atuação e mais de 200 funcionários.

Na infância, no Tejuco, Márcio André trabalhava vendendo pastéis para os funcionários da extinta mineradora Ferteco, comprada pela Vale em 2001, e localizada onde estava a barragem que rompeu em 2019. "Com 7 anos, eu acordava às quatro horas da manhã para ajudar minha tia a fazer massa de pastel, e saía de casa às sete para vender na portaria da empresa. Depois, eu vendi picolé, chup-chup...", lembra, com lágrimas nos olhos. Ainda criança, ele já dava sinais de sua visão empreendedora, quando conseguiu juntar dinheiro e comprou uma bicicleta, que alugava para os amigos. Filho de um operário e uma professora, Márcio seguiu trabalhando para ajudar nas despesas de casa. Na adolescência, foi garçom em Brumadinho até reunir recursos financeiros e se mudar para Belo Horizonte.

Com a mulher, Elma Lúcia, e a taça do Campeonato Mineiro de 2023:
Com a mulher, Elma Lúcia, e a taça do Campeonato Mineiro de 2023: "Quero ver o Galo campeão da Libertadores para disputar o Mundial e voltar com o título" (foto: Arquivo pessoal)
Os primeiros meses na cidade grande foram difíceis. "Eu morava na casa de um amigo, com seus pais, mas tinha vergonha até de me sentar à mesa com eles. Então, eu comia fora de casa, pão de queijo e leite todos os dias no almoço, e caldo de mocotó ou pão molhado, no jantar", diz Márcio André. A vida em BH começou a melhorar quando seu irmão e três amigos de infância chegaram à capital e se reuniram com Márcio para dividir o aluguel de um apartamento no icônico edifício Maletta, no cruzamento da rua da Bahia com a avenida Augusto de Lima, no centro. "Foi a partir disso que eu consegui um emprego em uma construtora e, quando fui demitido, investi o dinheiro da rescisão na compra de uma pá carregadeira, com a intenção de alugá-la para empresas. Deu certo. O que era arrecadado eu guardava e fui comprando outras máquinas para alugar."

Com o espírito empreendedor que o acompanhava desde a infância, Márcio André fundou a TCM, em 1990, quando chegou a quatro máquinas de obra adquiridas. Cinco anos depois, conheceu o engenheiro Renato Malta, que se tornou seu sócio na empresa. "Foi ele quem me ensinou a participar de editais públicos para aluguel de equipamentos para prefeituras, o que se tornou a principal atividade da TCM. Aprendi muita coisa com ele e sou muito grato por isso. Com o tempo, a gente encerrou a sociedade, mas seguimos amigos até hoje", afirma Márcio.

"O que mais me faz feliz na vida é ajudar as pessoas. Tenho certeza que conquistei muitas coisas na minha vida predestinado a fazer o bem para quem precisa e não tem condições"

Márcio André de Brito, vice-presidente do Galo

A gratidão, aliás, é apenas uma das várias qualidades de Márcio André, conhecido também por sua humildade. Ele diz que faz questão de cumprimentar todos os funcionários da TCM com um aperto de mão e um abraço, e tratá-los sempre pelo nome, com muito carinho e atenção. E isso não é uma estratégia de gestão, vale ressaltar. Márcio relata que, em um de seus empregos, foi humilhado por outro funcionário, e isso lhe trouxe muita tristeza, mas também o ensinou a importância de tratar bem as pessoas: "Todos os colaboradores da TCM sabem que são importantes para mim e que tenho gratidão por eles exercerem suas funções diariamente com dedicação. Não preciso ficar cobrando trabalho de ninguém, é um ambiente muito bom".

Outra qualidade de Márcio possui é a empatia. A infância pobre o fez um homem solidário. Desde que mudou de vida com a fundação da TCM, ele dedica boa parte de seu tempo para ajudar a quem precisa. Participa de ações sociais comprando e distribuindo, presencialmente, cestas básicas nas vilas e favelas de BH e promovendo eventos para levar alegria e lanches a crianças que moram nesses locais. Márcio André também é conhecido por incentivar e ajudar financeiramente clubes e atletas do futebol amador na capital. "O que mais me faz feliz na vida é ajudar as pessoas. Já ajudei familiares, amigos, funcionários e, principalmente, pessoas totalmente desconhecidas. Tenho certeza que conquistei muitas coisas na minha vida predestinado a fazer o bem para quem precisa e não tem condições", afirma.

É impossível contar a história de Márcio André sem falar de sua paixão pelo Galo, que começou aos 6 anos de idade e se tornou ainda mais forte ao entrar no Mineirão pela primeira vez, em 1974, aos 16 anos, quando veio de Brumadinho com um vizinho, para assistir ao superclássico Atlético x Cruzeiro, vencido pelo time alvinegro por 2 a 1. "Assistimos o jogo na antiga Geral, que era o setor mais barato. Foi uma emoção muito grande e, depois disso, eu nunca mais deixei de acompanhar o Galo, seja no estádio, no rádio ou na televisão."

Na comemoração da conquista da Supercopa do Brasil, em 2022: após a emocionante vitória sobre o Flamengo, nos pênaltis, por 8 a 7, na Arena Pantanal, em Manaus(foto: Arquivo pessoal)
Na comemoração da conquista da Supercopa do Brasil, em 2022: após a emocionante vitória sobre o Flamengo, nos pênaltis, por 8 a 7, na Arena Pantanal, em Manaus (foto: Arquivo pessoal)
Naquela época, mal sabia Márcio que o futuro o aproximaria ainda mais do seu clube do coração. Ainda na adolescência, jogando bola nos campos de Brumadinho, ele conheceu o hoje presidente do Galo, Sérgio Coelho, com quem nutre uma amizade de mais de quatro décadas. Sérgio se tornou diretor no Atlético em 1995 e sugeriu ao amigo que comprasse uma cota da Vila Olímpica - clube de lazer pertencente ao Galo, na região da Pampulha. Com a aquisição, Márcio André se tornou elegível ao Conselho Deliberativo do Atlético e foi eleito conselheiro ainda naquele ano. "Desde então, sempre procurei ajudar o Galo com muito trabalho e dedicação. Inclusive, participei do conselho fiscal durante nove anos", conta Márcio, hoje conselheiro benemérito do clube.

Sabendo do espírito solidário de Márcio André, Sérgio Coelho, quando foi eleito presidente do Atlético, em 2021, o convidou para ser vice-presidente do Instituto Galo - braço filantrópico do clube presidido por sua mulher, Maria Alice Coelho. Na instituição, Márcio ajudou a planejar e promover ações como campanhas de combate à fome e ao frio, doação de sangue, incentivo à educação e à cultura. Em 2023, quando concorreu à reeleição para a presidência do Galo, Sérgio precisou escolher um novo vice, uma vez que o de então, José Murilo Procópio, decidiu não se recandidatar. "O Sérgio me ligou e perguntou se podia vir até minha casa para conversarmos. Nos sentamos à mesa e ele me explicou sobre a decisão do Dr. José Murilo, e que com isso tinha três nomes para substituí-lo. O primeiro da lista era o meu. Foi um momento de muita emoção porque eu nunca trabalhei para o Atlético pensando em chegar à presidência", diz Márcio.

Ao lado do presidente Sérgio Coelho na cerimônia de posse da presidência para o triênio 2024-2027:
Ao lado do presidente Sérgio Coelho na cerimônia de posse da presidência para o triênio 2024-2027: "A minha função é ajudá-lo na gestão da associação, que envolve a sede de Lourdes, o Labareda e a Vila Olímpica" (foto: Daniela Veiga/Atlético/Divulgação)
A chapa composta por Sérgio Coelho e Márcio André foi eleita por aclamação em dezembro do ano passado. "O Márcio é um grande atleticano e já prestou grandes serviços ao Galo nas quase três décadas, desde que se tornou conselheiro. É muito querido por todos no Atlético, na imprensa e na torcida, além de ser um grande empresário. Ou seja, ele possui todas as qualidades que eu preciso em um vice-presidente. Tive a honra de convidá-lo para o cargo e também fiquei muito honrado em ouvir um ‘sim’", diz Sérgio Coelho sobre o amigo e agora braço-direito.

Os dois agora se dedicam à associação, uma vez que o clube se tornou Sociedade Anônima do Futebol (SAF). "O Sérgio se envolve mais com o que acontece em campo, porque é presidente do Comitê de Futebol, que é uma parte da SAF. A minha função é ajudá-lo na gestão da associação, que envolve a sede de Lourdes, o Labareda e a Vila Olímpica. Trabalhar com ele é uma responsabilidade enorme, porque ele entende muito de gestão e é bastante exigente, principalmente com prazos. Foi uma dádiva para o Atlético ter o Sérgio como presidente", afirma Márcio. No entanto, o profissionalismo que demonstra ao trabalhar para o clube não inibe o coração de torcedor apaixonado de Márcio André. Enquanto participa da gestão mais vitoriosa da história do Atlético, ele continua nutrindo sonhos, assim como quando chegou a BH. "Quero ver o Galo campeão da Libertadores para ir disputar o Mundial e voltar com o título."

Quem conhece Márcio André, diz que ele é "gente como a gente". E não é que é verdade? Ao encerrar esta entrevista - que foi realizada em sua casa, em um fim de tarde -, fez questão de preparar a mesa e ir para a cozinha passar um café que serviu com um típico biscoito de polvilho mineiro.

Os comentários não representam a opinião da revista e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

Publicidade