
A conexão com produtos e serviços do passado é ainda mais presente na chamada geração Millenials, nascida entre 1982 e 1994 e conhecida por estar diretamente conectada à tecnologia. Para eles, gastar com a compra de brinquedos para si mesmos ou para seus filhos – para que sejam compartilhados, é claro – não é sinônimo de imaturidade mas, sim, uma forma saudável de abstrair os problemas e se conectar com algo que lhes faz bem. Isso inclui desenhos animados, heróis, figuras de ação, jogos e tudo aquilo que esteja associado ao período da infância. Afinal, como deixar cair no esquecimento desenhos como Ursinhos Carinhosos, He-man, Smurfs, Corrida Maluca, Thundercats, Caverna do Dragão, além de vários outros que reacendem tantas memórias afetivas?

A indústria de brinquedos logo identificou mais um nicho de mercado e criou serviços e produtos pensados para atender às demandas dos kidults. O aumento das vendas no auge da pandemia da Covid-19, que a princípio foi entendido como uma forma dos pais manterem seus filhos "ocupados", acabou surpreendendo e impulsionando o setor. De acordo com a NPD Group, empresa norte-americana de pesquisa de mercado, compradores kidults foram decisivos para o crescimento de 37% nas vendas de brinquedos nos EUA em dois anos, chegando à cifra de 28,6 bilhões de dólares em 2021. Segundo a Bloomberg, empresa de tecnologia e dados para o mercado financeiro, 58% dos adultos entrevistados naquele período compraram brinquedos e jogos para uso próprio.

Durante a 9ª edição da Abrin, em 2023, maior feira de brinquedos da América Latina, a temática foi abordada no painel "Kidults: a nova e lucrativa tendência da indústria de brinquedos". "Após a pandemia, esse mercado vem numa crescente evolução", afirmou o diretor de marketing da Estrela, Aires Fernandes. Em 2022, a empresa já havia anunciado parceria com a Ri Happy no lançamento de dez brinquedos que foram sucesso em décadas anteriores, entre eles o Aquaplay e Snif Snif. Mas não são apenas os tradicionais jogos e brinquedos que povoam o universo dos kidults. "Nesse cenário, percebeu-se a necessidade de investir em atrações planejadas e que atendessem a públicos de todas as idades. Assim se consolidaram as exposições interativas, que permitem que o espectador interaja com as obras presentes", diz Jeff Neale, produtor da Blow Up Brasil.

Na casa da jornalista Iana Coimbra não podem faltar brinquedos e muito menos a vontade de brincar. Mãe de um casal de filhos, ela recorre aos objetos para se conectar com eles e resgatar o que gostava de fazer em sua infância. "É uma forma de deixar a vida mais leve e de estar em sintonia com eles". Entre os passeios prediletos da família estão visitas a festivais de quadrinhos, idas ao cinema, pedalar ao ar livre e andar de patins. "Algo que eu amava fazer quando criança e que acabei resgatando após ser mãe."