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Estado de Minas MEIO-AMBIENTE

Fiocruz alerta para possíveis surtos em Brumadinho

Lama de rejeitos pode causar várias doenças, diz fundação


postado em 05/02/2019 15:46 / atualizado em 05/02/2019 15:53

(foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais/Divulgação)
(foto: Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais/Divulgação)

Um estudo realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) alerta que o rompimento da mina Córrego do Feijão, da mineradora Vale, em Brumadinho (MG), pode causar surtos de doenças infecciosas como dengue, febre amarela e esquistossomose, além de mudanças no bioma e agravamento de problemas crônicos de saúde, como hipertensão, diabetes e doenças mentais.

A análise foi realizada pelo Observatório Nacional de Clima e Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde e pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Emergência de Desastres em Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, com base nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), da Agência Nacional das Águas (ANA) e do DataSUS.

A pesquisa chama a atenção para a perda de condições de acesso a serviços de saúde, que pode agravar doenças crônicas já existentes na população afetada, assim como provocar novas situações de saúde deletérias como doenças mentais (depressão e ansiedade), crises hipertensivas, doenças respiratórias e acidentes domésticos, além de surtos de doenças infecciosas.

"Um aumento de casos de acidentes vascular-cerebrais foi observado após as enchentes de Santa Catarina em 2008 e do acidente de Fukushima, no Japão, mesmo depois de meses dos eventos disparadores. Estes casos podem ser consequência tanto de situações de estresse e transtornos pós-traumáticos, quanto da perda de vínculo com os sistemas de atenção básica de saúde. Neste sentido, as doenças mentais decorrentes de grandes desastres ambientais podem ser sentidas alguns anos após o evento traumático, como relatado em Mariana [tragédia ambiental de 2015]", comenta o pesquisador Christovam Barcellos, integrante da equipe que realizou o estudo, em entrevista para a Agência Fiocruz.

Segundo ele, a contaminação do rio Paraopeba, afluente do rio São Francisco, pelos rejeitos da mina pode ser percebida facilmente pelo aumento da turbidez das águas. "A presença de uma grande quantidade de material em suspensão nas águas dos rios afetados causou a imediata mortandade de peixes e inviabiliza a captação e tratamento da água para consumo humano", diz o especialista.

Além disso, o pesquisador lembra que as alterações ecológicas provocadas pelo desastre podem promover a transmissão de esquistossomose, principalmente se levado em consideração que grande parte do município de Brumadinho e municípios ao longo do rio Paraopeba não é coberta por sistemas de coleta e tratamento de esgotos. "A transmissão de esquistossomose é facilitada pelo contato com rios contaminados por esgotos domésticos e com presença de caramujos infectados", afirma Christovam Barcellos.

O especialista observa ainda que a degradação do leito do rio e de seu entorno vai produzir alterações significativas na fauna, flora e qualidade da água, como perda de biodiversidade, mortandade de peixes e répteis. "A bacia do rio Paraopeba é uma área de transmissão de febre amarela e um novo surto da doença não pode ser descartado. É urgente a vacinação da população", ressalta o pesquisador.

(com Agência Fiocruz)

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